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Desça do pedestal

 

Tudo se iniciou como uma massa disforme, que começou descansando num pedestal, às vezes esquecida ou às vezes ausente.

No começo apenas alguns traços e muito lentamente foi tomando forma, com alguns breves troca de olhares. Com o passar do tempo não havia dia que deixasse de ter com ela e sempre havia algo sendo acrescentado.

Um detalhe da sombracelha, uma boca mais detalhada, um olhar mais caprichado, e assim foi-se melhorando aquela massa de barro originalmente disforme. E de tal forma foi sendo melhorada, que o artista a muito custo reconhecia ali uma massa de barro moldada pelo o olhar e pelas mãos.

Com o tempo foi acreditando ser aquela a mais perfeita de todas as estátuas de barro. Não conseguia ver defeitos e as marcas da mão, da cabeça e do olhar se tornaram perfeitas.  Parecia que tinha sido feita de propósito, para si mesmo.

Muitos discordavam de toda essa perfeição, e alertavam que se tratava de uma estatua de barro comum e que toda essa beleza residia no olhar do artista e que ela poderia se dissolver a qualquer momento. Ela não existia.

Depois de muitas tentativas um dia, porém, o vento enveredou pelo salão. Enveredou de tal forma, com tal intensidade, que a estátua ensaiou um tímido movimento. Sem se dar conta do vento alguns dos presentes perceberam o movimento, e espalhou-se então o boato de que além de perfeita, a estátua agora estava tentando, de vontade própria, descer do pedestal. Era hora de decidir, Hora de Mudar.

Tal evento foi interpretado como um ato de profunda humildade da estátua, que apesar de toda a sua perfeição, não se considerava digna de um pedestal, muito menos de veneração. Isto só contribuiu para que fosse ainda mais venerada e considerada ainda mais perfeita.

Mas o vento, como tão bem se sabe, não se cansa, e em uma nova tentativa, enveredou-se ainda com mais força pelo salão. Neste dia a estátua estava sozinha porque as pessoas refugiaram-se em suas casas pelo frio que fazia. A força do vento e a escuridão impediam-nas de sair à rua.

E a estátua então desceu do seu pedestal.

E a multidão ao ver a beleza da estátua, descobriu-se ela era, realmente e tão somente, uma deusa de uma massa de barro disforme moldada pelo olhar e um par de mãos. Houve aqueles que choraram, houve aqueles que se revoltaram e houve aqueles (minoria) que sorriram de satisfação.

Ela tomou forma e fez a felicidade do artista.            

 

Eduardo Augusto dos Santos

Paulistano do bairro da Indepedência (Ipiranga-São Paulo), que apesar de manter fortes vínculos com suas origens e convicções sempre foi um apaixonado pelas mudanças como forma de evoluir e crescer como ser humano, daí HORA DE MUDAR.

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  • Estou aqui para dizer-lhes algo
    que é absolutamente inacreditável:
    que vocês são deuses e deusas.
    Vocês se esqueceram disso.

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Eduardo Augusto dos Santos

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