Tudo começou por acaso através de uma entrevista numa rádio, uma curiosidade para entender do que se tratava, se escondia, se havia algo desconhecido ou esquecido.
Como a curiosidade é um motor das realizações o artista procurou entender essa nova realidade.
O artista no começo prestou atenção em alguns traços, alguns olhares, gestos e palavras e lentamente algo foi formando.
O tempo foi passando e não havia dia que deixasse de ter com ela trocas e sempre acrescentando algo nesse rascunho.
Aos poucos esse rascunho foi tomando forma. Um detalhe da sobrancelha, uma boca mais detalhada, um sorriso aberto e assim foi se moldando aquela massa de argila originalmente disforme, melhorada a cada instante. O artista já não via mais ali uma massa de argila,
Rapidamente foi acreditando ser aquela a mais perfeita de todas as estátuas já vista. Não conseguia ver defeitos e as marcas das mãos, da cabeça e do olhar foram se tornando únicas. Parecia que tinham sido feitas de propósito, para si.
Muitos podiam até discordar de toda essa perfeição e alertavam que se tratava de uma estatua de barro comum e que toda essa beleza residia no olhar do artista e que ela poderia se dissolver a qualquer momento. Ela não existia.
Depois de muitas tentativas um dia, porém, o vento entrou pelo salão. Enveredou de tal forma, com tal intensidade, que a estátua ensaiou um tímido movimento. Sem se dar conta do vento alguns dos presentes perceberam o movimento e espalhou-se então o boato de que além de perfeita, a estátua agora estava tentando, de vontade própria, descer do pedestal, ter vida própria.
Tal evento foi interpretado como um ato de profunda humildade da estátua, que apesar de toda a sua perfeição, não se considerava digna de um pedestal, muito menos de veneração. Isto só contribuiu para que fosse ainda mais venerada e considerada ainda mais perfeita.
Mas o vento, como tão bem se sabe, não se cansa e em uma nova tentativa, enveredou-se ainda com mais força pelo salão. Neste dia a estátua estava sozinha porque as pessoas refugiaram-se em suas casas pelo frio que fazia. A força do vento e a escuridão impediam-nas de sair à rua.
E a estátua então desceu do seu pedestal.
Quando pode a multidão ao ver a beleza da estátua, descobriu ser ela real, que de uma massa de argila disforme moldada pelo olhar, pela mente e um par de mãos do artista agora era tão somente uma deusa.
Houve aqueles que choraram, houve aqueles que se revoltaram e houve aqueles (minoria) que sorriram de satisfação.
Ela tomou forma e fez a felicidade do artista.
THE END