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Pontualidade brasileira.
Que o brasileiro não é pontual é sabido por todos. Ele não cumpre os horários e ainda faz “gozação” com os que cumprem.
Até em eventos o horário não é cumprido. Repare que os horários são sempre em hora redonda, ou quando muito fracionada, aos quinze minutos.
A ojeriza à hora estabelecida está no DNA do brasileiro e é só conversar com quem trabalha na área de recursos humanos e vai ver como isso é enraizado. Se a empresa dá uma tolerância de 10 minutos na entrada, logo é incorporado ao horário normal e continua chegando atrasado.
Pense e me diga: você é sempre pontual em seus compromissos?
Pois é, eu sei, mas lembre-se que a pontualidade é uma das maneiras de demonstrar respeito ou desrespeito por uma pessoa. Pontualidade é tempo, e tempo é dinheiro. E afinal o tempo rege nossas vidas.
Quando vamos marcar um compromisso dizemos: “que tal entre 9 e 10 horas?”. Se insistir no estabelecido de um horário determinado vem à afirmação: “você quem sabe”.
Quando agendamos algo com alguém, é porque este alguém acredita que dividir o tempo dela com você é importante. Ou seja, se alguém lhe dedica algum tempo da sua vida, é porque ela lhe dá importância.
Ao não cumprir o horário marcado qual é a mensagem que passa para essa pessoa que te espera?
Uma é que o seu tempo é mais importante que o tempo de quem o aguarda. Você pode também parecer arrogante e esse comportamento pode até transparecer uma atitude desonesta de pessoas que não cumprem o que prometem.
Algumas vezes pode acontecer algum problema ou motivo de força maior para o atraso, mas, na maioria das vezes, isso é falta de compromisso. Na maioria das vezes com maior responsabilidade, o atraso pode ser evitado e dar satisfação com antecedência e justificar o porquê do atraso é uma maneira de amenizar o problema e demonstrar que você está preocupado com a pessoa que está lhe esperando.
Atrasos constantes podem virar um hábito e você irá perder credibilidade e respeito com as pessoas que o cercam e isso irá acarretar prejuízos pessoais e profissionais.
Tudo isso é muito mais que pontualidade. É muito importante a mensagem que passamos. E a mensagem é o quanto respeitamos as pessoas e somos capazes de cumprir com o que prometemos.
Agora, com a vinda ao Brasil de inúmeros profissionais estrangeiros e novas empresas multinacionais chegando isso vem causado um grande problema de comunicação.
Para exemplificar nossa necessidade de mudar esse hábito estou colocando abaixo um texto que saiu na revista Veja (14 de novembro, 2012) do americano Matthew Shirts que vive e gosta do Brasil a um bom tempo.
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Pais e filhos
Convocou-se uma reunião em casa na semana passada para discutir o horário em que eu deveria ir buscar o meu caçula, Sammy, de 9 anos, na casa de Leo, um colega seu de classe que mora próximo à Estação Vila Madalena do metrô.
Os dois haviam combinado de brincar depois da aula. O dia seguinte seria feriado.
Como a mãe do Sammy estaria viajando, achou-se por bem discutir a questão em grupo antes, para não haver mal entendidos.
A preocupação não era com Sammy, diga-se, mas com a minha capacidade de seguir as instruções e comparecer ao lugar certo na hora correta.
A vida social das crianças parece-me mais intensa hoje. É bom isso, mas não deixa de ser um desafio para os pais, maior ainda no caso dos avoados como eu e alguns dos meus amigos.
O meu querido Lorenzo Mammi, para dar um exemplo, está entre as pessoas mais cultas e inteligentes que conheço. É critico de arte e de música, professor da USP, além de divertido e engraçado e grande torcedor de todas a modalidades esportivas. Escreve ensaios sobre a bossa nova de tirar o fôlego. É italiano, criado em Roma, se a memória não me falha, mas vive em São Paulo há décadas.
Anos atrás, antes do celular até, foi levar um dos seus filhos a uma festa de aniversário. Abriu-se a porta da casa, que emitia sinais claros de animação infantil, o filho entrou e o pai foi ao cinema.
Buscou o filho na volta, depois do filme. Perguntou-lhe se o colega havia gostado do presente que compraram. Seu filho respondeu que mais ou menos, o que era até surpreendente, continuou, uma vez que o pai o havia deixado no endereço errado.
O filho do Lorenzo não conhecia o aniversariante nem ninguém na festa. Mas fora bem acolhido pela mãe do menino, disse para o pai, que parou o carro para ouvir detalhes da história. Deu tudo certo. Brincou bastante. Cantou Parabéns. Fez novas amizades.
Outro amigo meu o escritor Reinaldo Moraes, se complicou também ao visitar a escola das filhas mais novas. A diretora apresentava com prazer as novas instalações da instituição de ensino. Deteve-se no laboratório de química. Parece que era particularmente moderno e equipado.
Reinaldo, que é curioso, como todo escritor, e alto, 1,90 metro talvez, deu de cara como uma placa ali no meio da sala com a instrução “Puxe” pendurada de uma corda. Contemplou-a enquanto rolavam as explicações à sua volta.
Não se conteve. Puxou a corda.
Provocou, com isso, o despejo imediato de centenas de litros de água sobre a sua pessoa. O dispositivo de segurança do laboratório, mostrou aos outros pais presentes, funcionou bem. Conta ele que passou o resto da visita molhando os corredores da escola. A cada passo que dava, fazia um barulhinho chato, de tênis molhado. Não me recordo se os outros pais conseguiram disfarçar as risadas ou não.
Com amigos queridos como esses, faz até algum sentido a preocupação com minha capacidade de cumprir as exigências da vida social do Sammy, na ausência da mãe. Sofro de limitações pessoais nas áreas de tempo e espaço. Perco-me, até hoje, com regularidade, em São Paulo, apesar do Google. Ostento, ainda, uma pontualidade inconveniente em todos os encontros sociais brasileiros, sejam eles infantis ou não.
Daí a reunião. A mãe do Leo pedira para buscar o Sammy às 22 horas. Mas me explicaram que não era para levar ao pé da letra. Segundo o Sammy, eu deveria chegar às 23 horas. Luli achou um exagero. Sammy cedeu. Pediu para eu chegar entre 22h30min e 23 horas. Respondi que eu era americano. Precisava de um horário exato. Sammy deu um suspiro e saiu às 22h45.
E não se fala mais nisso.