A região da Grande São Paulo vem sofrendo da maior seca dos últimos 80 anos. Com isso o abastecimento de água da maior aglomeração humana vem sendo ameaçado.
Procurando entender essa complexa engenharia de abastecimento, pesquisando na internet acabou caindo nas minhas mãos a história de como resolvíamos nossos problemas no inicio do século passado.
Talvez se em vez de investirmos (sim fomos nós brasileiros que investimos, ou melhor perdermos) em porto em Cuba ou em refinaria no Estados Unidos e colocassemos todo esse dinheiro aqui dentro (Brasil) para resolvermos nossas dificuldades não estaríamos com essa ameaça nas nossas costas,
Vejam o que nossos antepassados fizeram no inicio do século passado quando a falta de energia elétrica poderia ser um grande entrave para o crescimento de São Paulo.
Para aqueles que entram em contato com o Rio Pinheiros, a Represa Billings, descem a serra em direção a Santos vai ser muito curioso descobrir essa história incrível de que querendo é possível.
Vamos a ela:
A curiosa história do Engenheiro Billings, o homem que fez os rios correrem ao contrário, e mudou para sempre a cidade de São Paulo.
Engenheiro Billings, O homem que mudou São Paulo – Capa de uma revista em quadrinhos com a história de sua vida, publicada em 1962.
No caminho entre o litoral paulista e a cidade de São Paulo, uma série de tubulações que se erguem pelo gigantesco paredão rochoso da Serra do Mar chamam a atenção.
As tubulações da Usina de Cubatão (Henry Borden)
São as tubulações externas da “Usina de Cubatão” (Usina Henry Borden), uma das mais excepcionais obras da engenharia brasileira, fruto da criatividade e excelência técnica de um engenheiro que poderia ser classificado como um dos mais brilhantes que já passaram por nossas terras: Asa White Kenney Billings.
Porém, conhecendo um pouco melhor a história desta octogenária obra-prima, você perceberá que as tubulações que desafiam a serra do mar são meros coadjuvantes nesta história…
Rua Líbero Badaró em foto de 1922 – Ano em que Billings chegou ao Brasil
Obcecado pela ideia de criar uma maneira de gerar energia de forma eficiente, aproveitando a geografia da cidade, teve uma ideia:
“Por que não usar a queda abrupta de mais de 700 metros do planalto paulista para gerar energia elétrica?”.
O Sistema idealizado por Billings – Reverter as águas do Rio Pinheiros, e depois lançá-las montanha abaixo, gerando energia elétrica.
A ideia era genial, mas ainda existia um enorme problema: a topografia da cidade fazia com que os rios que nasciam próximos à Serra do Mar, como o Tietê e o Pinheiros, corressem em direção ao centro do estado, e não para o litoral. O que tinha sido uma enorme vantagem para os Bandeirantes, que usaram os rios para explorar os rincões do Brasil, tornava-se um empecilho para as ideias de Billings.
“Piscina” em pleno Rio Pinheiros Década de 20
Mas a perseverança e criatividade do engenheiro americano não tinham limites, e novamente ele teve uma ideia que a princípio mostrava-se absurda: “Se os rios não correm para a Serra do Mar, por que não reverter seu curso através de estações elevatórias, formando um reservatório que permita a geração de energia?”.
Pelo sistema de Billings, a energia gasta para elevar as águas do Pinheiros até a Serra do Mar é recuperada plenamente pela Usina Hidrelétrica
Os estudos mostraram que a reversão de toda a bacia do Tietê não seria factível, mas aplicar a ideia de Billings até a confluência entre os Rios Pinheiros e Tietê seria possível. Desta forma, o Rio Pinheiros seria transformado em um canal desde sua foz até a estação de bombeamento da Traição, que elevaria as águas em cerca de 5 metros, conduzindo-as até a base de uma represa que seria construída nos arredores de Santo Amaro, de onde seriam bombeadas até o Reservatório do Rio Grande, a ser formado por esta barragem.
As águas seriam conduzidas às turbinas através de tubulações que desceriam a Serra. O maciço da Serra do Mar, que tantos obstáculos havia criado para a colonização do planalto, seria finalmente utilizado a favor dos paulistas.
Confluência dos Rios Pinheiros e Tietê, década de 20
O Rio Pinheiros, antes da retificação coordenada por Billings
À época, o Rio Pinheiros tinha um trajeto sinuoso, formando uma grande várzea inundável, cujos habitantes sofriam com frequentes inundações.
O plano de Billings ainda teria a tarefa adicional de aumentar a eficiência do canal que levaria as águas para o reservatório retificando o curso do rio, que traria um efeito colateral interessante: acabar com as enchentes da região.
A Barragem do Rio Grande depois foi expandida, e desde 1949 é chamada de Represa Billings
Barragem do Rio das Pedras, onde é possível ver onde termina o planalto e começa o paredão da Serra do Mar
Casa das Vávulas da Usina de Cubatão, no alto da Serra – Vista espetacular da Baixada Santista.
Em 1927 tiveram início as obras da Usina Hidrelétrica de Cubatão, a barragem do Rio Grande (que depois foi expandida e ganhou o nome de Represa Billings) e o deslocamento da antiga Estrada Rio-São Paulo, que passava exatamente por uma área que seria submersa.
Fotos da Usina de Cubatão (Henry Borden durante sua construção
Barragem Rio das Pedras, 1929 – Aqui o nível do Reservatório é controlado, e quando sobe muito é jogado serra abaixo até o Rio Cubatão
Casa das Válvulas no alto da Serra
Vista das tubulações externas durante a construção da Usina
Depois de problemas de atrasos nas obras durante o período iniciado a partir da Revolução de 32, a retificação do canal do Rio Pinheiros e as estações elevatórias em seu percurso foram concluídas em 1944, acabando com as grandes inundações que ocorriam em suas margens durante séculos (depois, com a impermeabilização do solo, as inundações voltaram, mas esta é outra história…).
Usina Elevatória da Traição, ao lado das avenidas dos Bandeirantes e Luis Carlos Berrini. quando em funcionamento, eleva em 5 metros as águas do Pinheiros
Interior da “Usina da Traição”
Com o sistema em pleno funcionamento, a Usina de Cubatão mostrou-se um sucesso acima das expectativas, pois sua queda de 720 metros e o uso das turbinas Pelton, otimizadas para uso com pouco volume de água, mas com alta queda, tornaram-na uma das mais eficientes do mundo.
Turbina Pelton – Apropriada para pouco volume de água com alta pressão
Turbina Pelton usada em Cubatão entre 1926 e 1975
O reconhecimento mundial do trabalho de Billings veio em 1936, quando a “Institution of Civil Engineers” de Londres convidou-o a apresentar um relatório sobre o trabalho feito no Brasil, especialmente em São Paulo.
O documento “Water-Power in Brazil” tornou-se um clássico no assunto, com leitura recomendada nas Escolas de engenharia de todo o mundo.
Seu nome é uma constante na lista dos maiores engenheiros do séc. XX.
Ordem do Cruzeiro do Sul – Pelos serviços prestados ao país, Billings a recebeu em 1946
Durante o período em que Billings esteve no Brasil, entre 1922 e 1949, a geração de energia em São Paulo aumentou de 90 mil quilowatts para mais de 500 mil quilowatts.
Ilustração mostrando a Usina Subterrânea de Cubatão (Usina Henry Borden) – Construída depois da época de Billings, mas mesmo assim uma obra fantástica. Escavada na rocha, é resistente a bombardeios de qualquer tipo
Depois da aposentadoria de Billings, foi construída outra obra fantástica, uma segunda usina subterrânea ao lado da Usina de Cubatão, totalmente escavada na rocha, com os mesmos 720 metros de queda e turbinas Pelton, aumentando a capacidade de geração de energia para 800 mil quilowatts.
Entrada da Usina Subterrânea
Interior da usina subterrânea
Além da geração de energia, a Represa Billings tornou-se um dos principais mananciais da região metropolitana de São Paulo.
Infelizmente, na década de 80, a poluição das águas do Pinheiros estava tornando as águas da Represa Billings impraticáveis para consumo humano, e o bombeamento foi interrompido. Com isto, hoje a Usina de Cubatão continua na ativa, mas opera com apenas 1/4 de sua capacidade.
Capivaras à beira do Rio Pinheiros – A poluição é tão alta que a água deixou de ser bombeada para a Represa Billings
Billings faleceu em sua residência na cidade californiana de La Jolla, em 3 de Novembro de 1949, poucos meses depois de ter se aposentado, deixando aquela que foi sua verdadeira pátria, por quem trabalhou incansavelmente.
Já parou para pensar sobre a importância do perdão? Para falar sobre o ato de…
Pelé, o Rei eterno do futebol Hoje vamos falar sobre Pelé, o Rei eterno do…
Autossabotagem “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto…
Vivendo uma mudança de época: você vê com esperança? Hoje eu me peguei pensando como…
Essa é uma pergunta que todos andam se fazendo. Para poder imaginar como poderá ser,…
Em 22 de abril de 2009 eu editei no meu blog www.horademudar.com.br o texto “O…
View Comments
Me desculpem a sinceridade, mas o Brasileiro por natureza ou herança é um povo desunido, interesseiro e defende o seu ou o seu grupinho!
Estamos nesta merda de país, não por conta dos políticos que sempre nos roubaram historicamente, mas pela completa falta de patriotismo. Ser patriota neste país é uma ofensa ao mais imbecil dos espertossss, dos brasileiros, isto é, aquele que quer levar vantagem em tudo. Ser patriota é pensar primeiro no coletivo, na sua comunidade e no progresso do seu país. Hoje vemos claramente duas vertentes. uma de imbecis que defendem cegamente o PSDB que tradicionalmente é um partido capitalista e puxa saco dos americanos que acredita fielmente no trabalho "escravo" isto é, a riqueza gerada é do patrão e o povo tem que pastar e trabalhar até o fim de sua vida. Já a outra metade de imbecis, defende o PT, o partido dos proletariados, isto é, acreditam piamente que a riqueza cai do céu apenas pelo discurso bonito em cima dos palanques e comícios, esquecendo-se que o trabalho é que cria a real riqueza. Boa parte da população burra e analfabeta, mas nada de boba, fica vivendo às custa dos bolsas família, bolsa gás e outras mais.
Finalizando, enquanto nós brasileiros pensarmos de forma individual, egoísta e mesquinha, gerações e gerações passarão e nada de mudança concreta e real ocorrerá.
A falta de água em São Paulo é culpa única e exclusiva do PSDB que vem governando São Paulo a vários anos, pelo menos um 20 anos e tem gente estúpida defendo o Alckmin e tenta ainda colocar a culpa no PT.
O PT de outro lado é o partido que teve oportunidades ímpares para deslanchar as mudanças reais neste país, principalmente na educação, saúde e segurança e hoje continuamos a ter os péssimos serviços de 30 anos atrás ou pior o aumento da roubalheira.
Concluíndo: Chega de partidarismos ou tentarmos criar um novo partido que mudará esse cenário, sejamos nós a mudança!
Acabaram com São Paulo...
O Brasil não cresce, nem tem vocação para tal.
Apenas depreda.